domingo, 12 de setembro de 2010

A participação de cada espécie na natureza sempre traz um superávit energético. A prova é a recuperação natural dos locais esgotados, que se inicia pelas espécies mais rústicas, mas sempre levando, depois de um tempo, ao aumento da biodiversidade. É a substituição da concorrência e competição fria, que causa escassez, conflito e falência por um sistema inteligente, baseado nos princípios da cooperação entre as espécies. Com esta constatação, fica óbvio que é mais lucrativo enriquecer os sistemas do que explorá-los. Exploração é quase sempre insustentável.

Um Sistema Agroflorestal não só é viável, como de menor custo e gerador de lucro. As técnicas tradicionais de agricultura, como o fogo, a capina e o arado são substituídas por uma convivência harmoniosa e criativa entre as espécies. O que regra as relações é que cada espécie cumpre uma função prevista para ela, trabalhando com o potencial do sistema. Trata-se simplesmente de criar plantações com dinâmica parecida com os ecossistemas locais.

Um principio é a diversidade, outro é o uso dinâmico da sucessão natural. No mesmo dia e local em que plantássemos o arroz, plantaríamos o milho, bananas, mandioca, guandu e mamão, todos em densidade como se fossem para monocultivo, e árvores de todo tipo, em alta densidade, dez sementes por metro quadrado. A agrofloresta é como um ser vivo, que tem relações de criadores e criados, os que tem ciclo de vida curto são criadores, como milho, feijão e mandioca. Os criados são os de ciclo longo, as árvores, por exemplo. Começa-se com as espécies menos exigentes, ao contrário do processo habitual, que parte da queima e uso da terra até seu esgotamento. A queimada leva a uma escala descendente de aproveitamento do solo, com plantio de espécies exigentes nos primeiros anos, um esgotamento rápido do solo e o plantio de espécies cada vez menos exigentes. Sem a queima, o processo é revertido, enriquece-se o solo com as espécies menos exigentes e inicia-se a capitalização para o plantio posterior das espécies mais exigentes.

A agrofloresta pode dar resposta a uma agricultura voltada para o consumo de massas. Uma grande empresa multinacional, há três anos, concluiu que agricultura não deve ser negócio para grandes empresas, mas para pequenos produtores, agricultura familiar. Passaram a investir em seringais consorciados em agroflorestas, com cacau, açaí e produtos de subsistência. Aliado às espécies silvestres, o homem teria muito mais oferta protéica, inclusive, do que criando bois. Sem o uso de fogo, que é uma ironia, porque resulta na expulsão da espécie humana. As pesquisas indicam que a implantação de agroflorestas não diminui a produtividade relativa de cada espécie plantada. Uma experiência na Bolívia resultou em quatro a cinco por cento menos de arroz do que se fosse em monocultivo, mas três meses depois, colheu-se o mamão, mais três meses, sem nenhum trabalho além de colher, obteve-se uma segunda colheita pequena de arroz, com um ano e dois meses veio a banana, depois a mandioca, com dois anos e pouco os primeiros cacaueiros, e com quatro anos os primeiros resultados florestais, em frutíferas e madeiras.

As mudanças de paradigmas são processos lentos e são favorecidos por pressões da própria natureza. No Brasil, com seus ecossistemas ricos, os riscos de colapso podem demorar, mas existem sinais claros de que chegarão. É mais gratificante ver numa agrofloresta próspera o superávit e a função humana como dispersora e não devastadora. Existem experiências centenárias, como a cafeicultura sombreada na América Central, consorciada a cítricos e diversas árvores, derrubados como obsoletos e substituídos por sistemas de monocultura. Agora teremos que fazer o caminho de volta para a natureza. De volta às matas e a um tipo de consciência que devolverá ao homem sua condição de espécie amorosa e cooperativa.


(Entrevista com Ernst Gotsch ao Jornal Biosfera – disponível em http://www.agrofloresta.net/static/artigos/jbio/index.htm
Ernst Götsch
Fazenda Olhos d'Água- Piraí do Norte- BA.CEP 45.436-000



Fonte: Jornal da Biosfera n.12 - Nov/Dez 2002
Leia no site do jornal:

sábado, 11 de setembro de 2010

Sistema Agroflorestal Sucessional Biodiverso ---------- Simulação 4 meses a 40 anos

1° etapa - 4 Meses

Consórcio dominante: Milho, arroz, mandioca


2° etapa - 1 ano e meio

Consórcio dominante: Balsa, embaúba, mamão, banana prata, abacaxi


3° etapa - 5 anos

Consórcio dominante: Balsa, pupunha, banana prata, urucum, ...


4° etapa - 18 anos

Consórcio dominante: Sumaúma, castanheira do Pará, seringueira, pupunha, açai, jaca, banana prata, cupuaçu, cacau, ...


5° etapa - 40 anos

Consórcio dominante: Sumaúma, castanheira do Pará, seringueira,, jaca, cupuaçu, cacau, ...




Todas as espécies são plantadas ao mesmo tempo, portanto na primeira etapa convivem todas as espécies que dominarão nas etapas subsequentes.

Fonte:


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